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Glamour em Digital 3D: DE S1m0ne A SHUDU

Publicado em

12/01/2022 10h14

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Em 2002, o cineasta Andrew Niccol dirigiu a película SIMONE (S1m0ne). O filme é um drama americano com a estrela Al Pacino que configura o papel de um produtor. Em um de seus projetos prontos a estrear, a protagonista abandona a tarefa. Enlouquecido, decide criar uma atriz digital. Belíssima criação interpretada pela atriz Rachel Roberts. Ironia à parte, a atriz também se manteve incógnita até a estreia do filme. Dentro do filme, e no filme, as produções mantiveram um suspense sobre quem seria a intérprete. O papel de Rachel é o da digital Simone, uma espécie de número um desse setor.

Imediatamente pode vir à mente a publicidade em torno do termo ‘Danone’ que recebeu até o diminutivo ‘danoninho’, aquele que vale (valia) ‘por um bifinho’. Explica-se. Daniel Carasso, filho do fundador da empresa, Isaac Carasso, tinha por apelido o termo ‘Danon’. Como homenagem a Daniel, Isaac criou o ‘Danone’, o primeiro, primogênito.

Assim também é Simone, o primeiro simulador, daí o acrônimo S1m0ne, SIMulation ONE (Simulação número um). Um processo de neologismo e aglutinação brincando com a língua inglesa nos dois casos: Danone e Simone.

Se Freud explica, Lacan cifra. O S1, significante mestre. Em seus quatro discursos em O avesso da Psicanálise (analista, mestre, histérica e universitário), Lacan usou códigos para fazer uma composição. Aglutinações e neologismos também com e na língua francesa. E é interessante olhar para esse significante em Simone. O S1, significante mestre, mostra no filme um discurso um tanto capitalista já que o produtor precisa ter uma atriz em substituição àquela que denega o papel. Mas trata-se de uma simulação, um semblante, um desejo. Um avesso. Como inverso, então, o discurso do analista. Simone é um simulacro sem equivalente na sociedade? Ela é, no entanto, criada à semelhança de várias características das mais lindas atrizes. É o que o produtor, com um programa, faz. Concentra em Simone atrizes existentes.

Não muito distante, estão as criações de avatares digitais que estão proliferando por conta do metaverso, vejamos a Meta (ex-Facebook) e a Microsoft que investem, e muito, nessas imagens. Fusões de mundos físicos e digitais. Passados 20 anos do filme Simone, o que parecia ficção científica é prática comum. Não se trata de substituir uma atriz ou modelo que desistiu de fazer uma campanha, mas simplesmente de atribuir um avatar a alguém que com ele fará campanhas, estará em reuniões, veiculará sua imagem, enfim. Esse processo metamórfico de manifestação corporal é antigo. A própria origem do termo ‘avatar’ remete ao sânscrito que, para a religião hindu, é uma manifestação corporal.

O resultado, por enquanto, lembra episódios do filme ‘Avatar’, de 2009, bem próximo ao ano do filme Simone. Também essa obra era considerada ficção científica. Próxima, alias,de Second Life, aquele ambiente virtual e tridimensional criado em 1999 e lançado em 2003. De novo, lá se vão vinte anos.

E quem é Shudu?  Uma modelo digital 3D gerada por computador, a primeira supermodelo digital criada em 2017 pelo fotógrafo Cameron-James Wilson. Na esteira de Shudu, acompanhamos um crescimento dessas celebridades. Shudu é negra e tem muitos seguidores no Instagram. E faz muitas, muitas campanhas. Shudu Gram, assim como Simone, não pode ser entrevistada. E viva o glaumor, não nos enganemos.

 

 

Roseli Gimenes

Coordenadora do curso de Letras da UNIP

Coordenadora do projeto Cultura em Foco do Instituto Legus

Professora no curso Semiótica Psicanalítica PucSP

Pós doc em Comunicação e Semiótica PucSP

Doutora em Tecnologias da Inteligência e Design Digital PucSP
Mestre em Comunicação e Semiótica PucSP

 

 

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Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.