Entrevistas

Entrevista com Luiz Victor, influenciador de gastronomia e viagens

Publicado em

09/02/2021 12h57

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Luiz Victor Torres (LV) é graduado em Publicidade e Propaganda pela UNIFOR, pós graduado em Marketing e Global Business Management pela Berkeley University of California e possui um passaporte repleto de carimbos e experiências. Atua como influenciador de gastronomia e viagens nas redes sociais compartilhando dicas e experiências.

 

1. Como começou a sua carreira como influencer digital?

Quando eu estava fazendo pós-graduação na Califórnia, as pessoas estavam usando muito snapchat e eu vi uma amiga gravando como se fosse uma influenciadora, enquanto na época as pessoas só postavam foto. Com isso, eu perdi a inibição e comecei a gravar vídeos mostrando meu dia a dia, e realmente batia um número bem considerável de visualizações, então foi aí que eu senti que começou tudo.

Quando voltei para o Brasil em setembro de 2015, pouco tempo depois eu recebi um convite da Revista Invoga, me chamando para escrever uma coluna digital sobre dicas em Fortaleza. Então participei das dicas, fui fazendo semanalmente e começou aumentar os seguidores no Instagram. A galera começou a vir, depois vieram oportunidades de trabalho, viagens, etc. Então, comecei a receber os seguidores e foi aí que realmente percebi que o negócio estava dando certo.

 

2. Como foi a sua primeira experiência como influencer digital?

Eu lembro do primeiro convite que recebi para visitar um estabelecimento, me enviaram um direct convidando para ir conhecer a loja, experimentar tudo e eu fiquei impressionado, achei muito legal e isso foi uma coisa muito marcante porque foi o grande primeiro convite. Fui lá, fiz a publicação e foi muito legal, me senti muito feliz com isso.

Mas o primeiro grande convite de trabalho foi para a Campari. Fui embaixador da Campari nacional e eu fui o mais engajado ao ponto que eles me levaram para o lançamento da campanha anual deles, que era em Roma, e eu passei 48 horas em Roma fazendo essa cobertura para eles. Foi algo inesquecível, muito memorável, foi um grande marco para mim.

 

3. Você hoje tem uma profissão que era inédita até pouco tempo atrás. Como você lida com isso?

É muito difícil ensinar as pessoas que isso é uma profissão, que isso é um trabalho e que esse é meu dia a dia. As pessoas ainda não são acostumadas à realidade do digital influencer, e não entendem muito bem como funciona o processo do trabalho, então diariamente é um novo desafio para educar as pessoas, os empresários, mostrar que isso é sim uma profissão, que tem registro, CNPJ, que é tudo regulamentado, que eu tenho equipe. Então é muito difícil entrar na cabeça do empresário, isso é o que eu mais sinto dificuldade de que as pessoas entendam que é um trabalho estruturado, mas, eu sinto que aqui em Fortaleza tem evoluído, apesar de ainda estar bem atrasado em relação a São Paulo, por exemplo, onde o pessoal já tem outro ritmo, já entendem perfeitamente como funcionam os trabalhos. Eu amo meu trabalho, acho que é o futuro da comunicação, mas nem todo mundo consegue realmente absorver isso.

 

4. A gente sabe que hoje a internet é um grande veículo de comunicação, você chegou a se imaginar que iria tão além em sua carreira?

Quando começou, a gente não enxergava isso como profissão, até mesmo como um veículo de comunicação, mas hoje a gente tem esse esclarecimento com a evolução de tudo. Eu não digo que entrei na internet quando tudo era “mato”, mas entrei quando ainda era “grama baixa”, já que entrei há 5 anos, então é muito impressionante a gente ver que se tornou o principal veículo de comunicação.

Eu me formei em 2014 e peguei essa grande transição, na faculdade não falavam tanto assim da internet como uma mídia principal, mas sim como mídia alternativa e ela se tornou hoje a principal mídia, na verdade os veículos de comunicação tradicionais se tornaram a mídia alternativa. E com isso, tivemos o esclarecimento de que nos tornamos veículo de comunicação e cada um com sua plataforma, comunidade, com seu segmento, demográfico, e isso virou uma grande ferramenta comercial porque para quem quer segmentar comunicação de algum produto ou empresa, já faz diretamente com influenciadores, então é muito louco ver isso porque não era algo que se imaginava antigamente.

 

5. Como você lida com o mundo dos influencers? Quais as dificuldades em ser um digital influencer?

Posso dizer claramente que existem alguns fatores desagradáveis, por exemplo, as pessoas que não respeitam o trabalho, não abordam com respeito, querem mandar coisas de graça mas não querem fazer o trabalho estruturado com contrato assinado, emissão de nota. Isso desvaloriza porque tem muita gente que se diz digital influencer e aceita,  mas isso definitivamente não é o de praxe do mercado. Tem  muito gasto envolvido e muito investimento de tempo e dinheiro para poder executar os trabalhos, então é muito desagradável quando as pessoas chegam atrás querendo permutar ou mandar um mimo, que nunca é genuinamente um presente, é uma necessidade de mídia que eles querem fazer de graça, então isso é muito difícil.

A gente também passa muito tempo trabalhando em estratégias narrativas de comunicação, imagem, vídeos e textos que as pessoas não leem, não prestam atenção e isso cansa muito porque tira 30 segundos do nosso dia cada vez que precisamos esclarecer alguma coisa que está escrita no texto, por exemplo. Outras questões são pessoas que vêm por interesse, se aproximam por interesse, você precisa ter muito bom senso, discernimento, muita responsabilidade e cuidado com quem você se aproxima, se envolve. Acaba que se fossem os artistas anos 2000 na época que eram capa de revista, muita gente se interessava, chegava perto por interesse, então isso é uma grande dificuldade da profissão, é muito desagradável.

 

6. Como você cria relacionamento com os seguidores? E com as marcas que você trabalha?

Eu tenho relacionamento direto com meus seguidores, me dedico diariamente horas por dia para poder responder, comentar, interagir nos perfis deles porque a gente precisa criar esse laço, esse vínculo, esse relacionamento de amizade. De certa forma, isso faz com que a gente se dedique a ter esse vínculo, alimentar essa amizade.

Particularmente, faço muita coisas com engajamento, eles comentam e compartilham, aparece para mim e eu gosto sempre de bonificar, dar um presente para eles, convidá-los para sair, tomar um café, almoçar. Antes da pandemia a gente fazia reunião com seguidores, então esse relacionamento é primordial para você ter o vínculo.

 

7. O que a quarentena te trouxe de benefícios? O que ela mudou na sua rotina?

A quarentena definitivamente me trouxe muitos benefícios apesar da crise, eu tive que me reinventar profissionalmente no conteúdo, minha estratégia e comercialização de mídia. Primeiramente porque na pandemia eu parei de cobrar todo mundo e fiz questão de ajudar todos os pequenos negócios locais, então diariamente eu me dedicava a produzir conteúdo inovadores e diferentes, então isso era muito bom porque me motivava. Outra coisa foi porque me fez começar a cozinhar, e isso me trouxe uma nova oportunidade de conteúdo, abordagens que realmente trouxeram muito retorno. Hoje estou gravando por causa desses conteúdos que produzi em casa e abriram portas, isso foi muito positivo para mim.

Entre os benefícios, algo que me ajudou muito foi me posicionar. Depois da quarentena, depois que fiz questão de ajudar todo mundo,  chegou uma hora que todo o capital começou a girar de novo, o comércio voltou a abrir e eu realmente comecei a ter outra abordagem que precisava realmente me sustentar mais ainda, mais do que antigamente, já que fiz questão de ajudar todo mundo, estava na hora de todos profissionalizarem ainda mais isso, então antes eu ficava acanhado em dizer isso e agora já falo.

 

8. Por que uma marca deve investir em influenciadores digitais? Quais as suas dicas?

As marcas devem investir porque literalmente os influenciadores são novos veículos de comunicação, são estratégias diferentes, produções próprias, são muito segmentados, de público ativo, então isso faz com que sejam muito mais assertivos nos conteúdos de narrativa. Tem muito mais feat com as marcas específicas, além de ser um investimento muito mais barato do que trabalhar na mídia tradicional como era antigamente com revistas, jornais, rádio, que também não eram tão afunilados nos segmentos, então, tem essa grande vertente de que mudou o jogo da comunicação e também facilitou muito para a minha profissão se profissionalizar e evoluir.

Minha dica é: sempre que for abordar algum influenciador solicitar o mídia kit, se for um perfil responsável, ele vai ter o mídia kit, uma pessoa comercial para lidar com isso, fazer a negociação. Não desrespeite o influenciador no momento em que vai abordar alguma coisa, querendo mandar alguma coisa porque esse é o ganha pão dele, então a minha principal dica é: respeite o trabalho, não trate o influenciador como um pedaço de carne. Assim como você quer mandar uma roupa, um bolo, tem outras várias empresas que querem e ele, infelizmente, não tem como ajudar todos porque é o trabalho da pessoa. Isso é o mais difícil pra gente, no momento em que as pessoas contratam a gente como profissional, tratam isso como uma brincadeira e isso incomoda muito.