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Executivas em Foco: Danielle Granjeiro e Fernanda Raizama

Publicado em

02/12/2021 02h36

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Danielle Grangeiro, executiva de marketing na PROJEART Soluções Tecnológicas em Aço, e Fernanda Raizama, diretora de Estratégia & Marketing da Solar Coca-Cola são exemplos de perseverança e força feminina em um mercado predominantemente cercado pela presença masculina em cargos de liderança e chefia.

 

Conheça a trajetória profissional e desafios diários de mulheres executivas que atuam no marketing e se destacam pela excelência em seus projetos 

 

Sobre Danielle Grangeiro

Formada em Turismo com habilitação em Eventos, com MBA em Marketing pela FGV e MBA em Estratégias, Projetos e Processos pela Faculdade CDL Ceará, Danielle Grangeiro é a Executiva de Marketing na Projeart – Soluções Tecnológicas em Aço, no Norte/Nordeste, cargo que assumiu em setembro de 2021. 

A profissional possui mais de 18 anos de experiência e conta com um histórico profissional de peso, tendo atuado em cargos de liderança em grandes empresas como: Senac-CE, VC Eventos – Coordenadora de Marketing e Eventos, Shopping Iguatemi Fortaleza – Coordenadora de Marketing, Outlet Fortaleza – Gerente de Marketing, Itajaí Shopping em Santa Catarina – Gerente de Marketing, consultorias em marketing, professora e palestrante em cursos profissionalizantes e Faculdades. 

Sua carreira é sinônimo de sucesso, crescimento positivo e diversidade, tendo sido capaz de aliar funções de consultorias em marketing para prefeitura, salões de beleza, concessionárias, etc, focando em estratégias para a geração de demandas, branding, rebranding, ativação da gestão de relacionamento da marca com o consumidor através de redes sociais, gerando cases de sucesso.

 

Sobre Fernanda Raizama

Formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal de Goiás, Fernanda Raizama também fez Especialização em Assessoria de Comunicação na mesma instituição e MBA em Gestão Estratégica de Marketing na Fundação Getúlio Vargas.

No início da sua carreira, a profissional foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Analista de Desenvolvimento de Embalagens no Laboratório Teuto Brasileiro e atuou com negociações de Marketing, sendo responsável pelas Regionais do Centro-Oeste/Norte. Na Vivo (Telefônica Brasil) foi diretora administrativa e posteriormente, iniciou uma trajetória empreendedora fundando a Raizama Alimentos. 

Fernanda também já atuou como professora de Ensino Superior no curso de Marketing da Faculdades ALFA e foi membro do conselho Conta Xip. Saiba mais sobre sua atual casa, a Solar Coca-Cola, onde a profissional já teve várias idas e vindas durante sua trajetória profissional.



Você já sofreu algum tipo de preconceito ou desvalorização no ambiente de trabalho por ser mulher?

Danielle Grangeiro: Infelizmente sim. Desvalorizações que se repetem desde questões culturais e históricas, até fatores econômicos. Faz pouco tempo que a mulher iniciou sua busca pela conquista de mais autonomia, decidindo seu próprio destino profissional. Ainda enfrentamos a realidade da dupla ou tripla jornada. É importante que a mulher se perceba tão capaz quanto os homens e que, por isso, tem direito a receber o mesmo valor pelo trabalho desempenhado. Às vezes, é necessário não esperar que alguém se dê conta da diferença existente. É preciso ir atrás, pedir aumento e mostrar as justificativas.

 

Fernanda Raizama: Embora eu saiba que essa não é a realidade da maior parte das mulheres, que todo dia se desafiam a sair de casa e viver o novo papel profissional, diferente dos vários papéis que elas carregam em si, eu – felizmente – não tive essa experiência. Tive sim a experiência de trabalhar em ambientes com grande representatividade masculina, mas, em todas elas, eu tive a felicidade de ter gestores e colegas de trabalho contribuíram muito para o meu amadurecimento como liderança feminina. Quando falamos de receptividade, acredito que tudo o que percebemos nos ambientes em que circulamos é uma leitura que carrega em si uma camada complexa de valores, de perfis, de posturas e de forças. 

Então, eu escolhi não ler esses momentos como um desconforto. Isso não quer dizer que ele talvez não tenha existido, mas a minha perspectiva me fez manter o foco sobre as mudanças que eu queria fazer e não sobre o efeito colateral das mudanças. É importante lembrar que todo crescimento está fora da zona de conforto. Seja nosso auto crescimento ou mesmo o crescimento das indústrias, ele pressupõe transformação e toda transformação mexe com as coisas. Eu nunca consegui ver nessa perspectiva que eu escolhi ter uma diferença entre o desconforto construtivo, que é aquele que faz parte do processo de transformação, e o desconforto que nos fecha, nos diminui.

Contudo, entendo que isso não é uma realidade que possa ser extrapolada. Tenho muita consciência de que essa não é a realidade da maior parte das mulheres, que estão nesse momento construindo seu espaço em lugares onde o ambiente não é acolhedor, ou mesmo onde a liderança não é empática. Não podemos ignorar as batalhas vividas por cada pessoa. E aqui é algo que vai além do gênero porque a gente nunca sabe a batalha que está acontecendo dentro de cada pessoa.

Eu acredito que devemos colocar energia nas coisas que a gente consegue controlar. Isso foi um aprendizado meu que talvez a maternidade tenha trazido também, porque a maternidade me ensinou que vai ter um monte de coisas que eu não consigo controlar e quando eu coloco muita energia, muito tempo para pensar sobre isso, é uma energia mal utilizada. É o conceito puro de ansiedade, de você sofrer antecipadamente com coisas que você não controla.

Como você avalia o atual mercado de trabalho com a presença feminina no marketing?

Danielle Grangeiro: Em 2021, o IBGE divulgou uma estatística onde a participação de mulheres no mercado de trabalho, de uma forma geral, teve o 5º ano de alta, mas a remuneração segue menor que a dos homens. Isso reflete em nossa área do marketing. Mesmo ganhando menos que os homens, podemos ver que nossa presença no mercado vem crescendo, ainda com poucas mulheres negras, pardas e com filhos pequenos… pois o preconceito, racismo e discriminação social ainda são bastante presentes. Mas essa perspectiva vem mudando gradualmente ao longo dos anos, de forma tímida, mas sendo discutida com mais intensidade. Somos criativas, buscamos sempre capacitação profissional e soubemos nos manter no mercado com a chegada da pandemia, onde o marketing no ambiente digital, obteve grande crescimento, de abril/2020 até o momento.

 

Fernanda Raizama: A área de marketing de muitas empresas no Brasil é uma área que tem muita presença feminina e maior diversidade. Acredito que o fato de sermos uma área com uma pauta muito forte de colocar as pessoas no centro das decisões de negócios, onde o Marketing contribui com a humanizar dessas experiências, isso nos permite viver em uma “bolha” que muitas vezes não é a realidade de outras áreas dentro da indústria e das empresas de bens de uma forma geral.

 

O que você julga ser um diferencial na sua postura profissional?

Danielle Grangeiro: Integridade, ética profissional e trabalho em equipe (sozinhos não vamos a lugar nenhum). Já passei por várias situações delicadas dentro do ambiente profissional, desde atos de violência psicológica até assédio moral, mas mesmo assim, sempre agi com ética perante as empresas as quais eu trabalhei, sem citar ou prejudicar a chefia que havia agido assim. Adoeci, me reergui e segui em frente.  

Fernanda Raizama: Se você me perguntasse isso há 5 anos, eu teria uma resposta diferente. Eu me vejo em uma jornada intensa e deliciosa de transformação. Se eu pudesse pontuar um “superpoder” que eu tenho – e aqui vale ressaltar que todo mundo tem um superpoder e que parte do processo de autoconhecimento é encontrar quais são os seus sabotadores e seus superpoderes, isso vai te habilitar a transformar o mundo e as coisas que você que você quer, para você e para comunidade – e que não mudou de lá para cá é minha energia. A energia que tem a ver com paixão. Talvez esse seja meu maior diferencial, porque é isso que me define. Outra coisa que eu tenho é o poder de adaptar. Na realidade eu me considero uma pessoa que se adapta muito rápido e isso me fortaleceu muito ao longo da minha carreira.



Qual a importância do elo entre mulheres que apoiam outras mulheres?

Danielle Grangeiro: Extremamente importante, pois quanto mais mulheres dão esse tipo de apoio umas às outras, mais elas podem desenvolver sua carreira e se empoderar. Mas há ainda uma pequena parcela de mulheres que não se atualizam, contratam outras mulheres para sua equipe e sentem-se ameaçadas, acreditando que tem uma concorrente e não uma aliada. Se você apoiar e for apoiada por outras mulheres na sua empresa, mais chances vocês têm de crescer juntas.

Fernanda Raizama: Essa pauta para mim é uma pauta de vida. É muito relevante. É uma agenda que deveria ser superior a uma agenda de gênero, pois fala sobre esse senso humanitário de conseguir enxergar no outro alguém que, como a gente, está passando por uma jornada de transformação e que tem seus dilemas e batalhas. Dentro da nossa realidade de liderança feminina, para mim essa é a base de sustentação de uma promoção ativa, pois precisamos lembrar de que a gente precisa ser o agente da mudança dentro das corporações. Na Solar eu consigo ver isso recebendo a atenção, o carinho e a relevância que o assunto merece ter. Consigo ver isso presente nas ações que vão desde nosso Diretor Geral, o André Salles, até às iniciativas que a Solar está promovendo. É uma preocupação em tratar os temas de diversidade e inclusão com a mesma intensidade que são tratados os demais temas do negócio.

Vale destacar aqui também o nosso papel enquanto agente de transformação enquanto “pessoa física”. De termos essa postura de criar essa rede de apoio para outras mulheres crescerem, da mesma forma que, enquanto “pessoa jurídica”, a empresa precisa criar um ambiente que acolhe, promove, desenvolve e que é generoso com as mulheres. Na minha opinião, o efeito expandido da rede de apoio transforma o mundo. Porque quando a gente se apoia, nós conseguimos superar as barreiras da empresa e começamos a criar uma rede de apoio que vai para além dessas paredes. Aí a gente começa a se conectar com o que a gente faz com nosso propósito de vida.

 

 Como você avalia o constante processo de aprendizado de um profissional?

Danielle Grangeiro: Acredito que todo profissional, seja em qual for a área, deve buscar o aprendizado contínuo, estar aberto ao novo o tempo todo. Conhecimento nunca é demais, e não se atualizar, nos mantém estagnados ao que aprendemos, principalmente hoje, com a evolução digital, onde está cada vez mais acessível. O processo de aprendizagem deve nos acompanhar ao longo da vida e não apenas em um determinado.

 

E na vida pessoal, quem é seu grande exemplo de vida?

Danielle Grangeiro: Minha mãe-avó, hoje com 97 anos: uma mulher fabulosa, dona do lar, que trabalhou incansavelmente fazendo bolos e vendendo para ajudar a pagar os cursos na área de Direito para meu pai-avô. Hoje falecido, deixando o cargo de promotor de justiça no Ministério Público e uma grande família. Ela é meu exemplo de mulher forte e batalhadora.

Fernanda Raizama: Minha grande referência de vida, pessoal e profissional, é a minha mãe. Ela é autodidata e parou de estudar para cuidar de mim e da minha irmã, quando acabou renunciando a alguns sonhos dela em nome de sonhos que, naquele momento, ela acreditava que eram maiores e para o bem comum da família. Depois de uns anos, ela voltou a estudar junto comigo. A gente se preparou juntas para o vestibular e passamos juntas. Eu passei para Direito na PUC e para Publicidade & Propaganda na Federal. Fiz os dois cursos juntos por um período, depois abandonei o Direito quando de fato eu me entreguei para a Publicidade & Propaganda e minha mãe cursou Direito. Entramos juntas no mesmo ano e a gente foi, dentro do nosso núcleo familiar, as primeiras a ter acesso ao curso superior. Ela tem uma trajetória muito bonita. Minha mãe fala dois novos idiomas, que ela aprendeu também sozinha. Hoje ela é artista plástica e encontrou uma forma de expressar a paixão dela pela vida através da pintura de tecido. Minha mãe é minha maior referência de vida.