Entrevistas

Dia do Publicitário: Entrevista com Eduardo Godoy, presidente do Sinapro-SP

Publicado em

01/02/2022 08h00

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Nosso Meio lança nesta terça-feira (01) uma série de entrevistas com presidentes do sistema Sinapro

 

No dia 01 de fevereiro, celebramos o Dia do Publicitário. Em alusão à data, o Nosso Meio lança uma série especial de entrevistas com os presidentes do sistema Sinapro, com apoio da Federação Nacional das Agências de Propaganda (FENAPRO). Assim, desejamos homenagear as lideranças das entidades que representam o mercado da propaganda no Brasil, mas também queremos abrir o diálogo dos Sinapros com os profissionais do segmento – nossos leitores -, que desejam saber mais sobre as novidades para 2022, análises dos presidentes sobre o cenário econômico, projeções de crescimento, tendências e muito mais.

Para a estreia dessa série especial, convidamos o presidente do Sinapro-SP, Eduardo Godoy, para uma entrevista de profundidade em que detalha os bastidores da sua gestão à frente da principal entidade representativa do mercado de comunicação no Brasil.

 

Nosso Meio: Após dois anos de instabilidade econômica, 2022 traz a esperança de retomada de vários setores, inclusive na publicidade, é o que diz a pesquisa Visão de Ambiente de Negócios em Agências de Propaganda (VANPRO) de 2021 sobre o clima para desenvolvimento de negócios e as expectativas do setor. Qual o verdadeiro cenário hoje do mercado publicitário paulista, que é a referência para o país? (impacto financeiro, recuperação, captação de recursos, demissões, gestão de equipe/novos regimes de trabalho etc).

 

Eduardo Godoy: O mercado publicitário paulista está muito ativo neste período de pandemia. Antes da pandemia, tínhamos um cenário de investimento distribuído de acordo com a realidade. Esse cenário mudou, mas não encolheu comparado com outras atividades da economia. Migramos os investimentos nos meios, mas não perdemos a capacidade de gerar negócios para nossos clientes. No âmbito interno das agências, temos muitos desafios – captação e capacitação de recursos humanos, gestão de equipes de forma híbrida ou à distância e outras capacidades inerentes ao trabalho de prestação de serviço.

 

N.M: Um dos principais desafios do mercado publicitário é o equilíbrio entre demanda e remuneração. Apesar disso, São Paulo é o mercado que oferece os melhores salários e oportunidades para o profissional do segmento. Na pesquisa VANPRO do terceiro trimestre de 2021, 55% dos entrevistados afirmam ter sobrecarga de trabalho. O que vem sendo feito para melhorar o cenário, o relacionamento com os clientes e a melhoria dos valores salariais?

 

E.G: São Paulo pode ter os melhores salários, mas tem os maiores problemas. Locomoção é um deles, e isso traz consequências na vida pessoal, como a distância familiar. A sobrecarga de trabalho, por sua vez, é consequência da falta de conhecimento e da prática da vida em home office. Tanto o empreendedor como o colaborador não aprenderam a trabalhar no HO, mas sim, foram obrigados a estar em HO. Realizamos, aqui no Sinapro-SP, uma série de palestras sobre o assunto, e também debatemos a questão nos encontros do nosso grupo de recursos humanos – o GT de RH –, que reúne profissionais da área de recursos humanos e que tem discutido os desafios do home office.

 

N.M: Boa parte das agências consultadas (71%) afirmam que as equipes são impactadas por altos níveis de estresse e tensão. As equipes com maior nível de tensão atuam no grupo de empresas com receita acima de R$ 10 milhões, sendo apontado como muito alto por 47% delas; como médio, por 43% e como baixo, por 10% das agências. Em tempos de pandemia, saúde mental tornou-se um assunto em ascensão. O que o Sinapro SP vem fazendo sobre o tema e qual sua análise sobre os índices?

E.G: O Sinapro-SP tem dois objetivos muito claros em relação a esse tema. O primeiro é a capacitação através de palestras provocando os gestores para que se envolvam com o tema e apliquem as melhores práticas em suas empresas. O segundo é espelhar na CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) os itens que tratam desse assunto. Sabemos que muitos empreendedores e colaboradores não estão preparados para esse desafio, mas quando se tem uma certa regra escrita, sabendo que podemos ser cobrados para segui-las, as colocamos em prática.

 

N.M: Muitos profissionais de várias regiões do país estão fazendo a transição para agências em São Paulo, seja remoto ou in loco. Qual sua análise sobre o fato?

E.G: Não existe mais fronteira para as coisas. Sabemos hoje e agora o que acontece com o irmão na Etiópia que sofre de pânico. Então porque não termos pessoas trabalhando para pessoas (afinal, trabalhamos para pessoas) independente de gênero, cor, etc., e agora de lugar?

 

N:M: Qual o papel do exercício da criatividade das agências de publicidade e propaganda em um contexto de profunda transformação digital, automação e hipersegmentação que impactam hábitos de consumo, de meios, informação e produtos?

E.G: A criatividade é a nossa essência. Sem criatividade, não há propaganda. Assim, criamos para as pessoas, e pessoas estão em todos os lugares. Devemos então criar para pessoas que estão conectadas em todos os lugares, seja no digital ou andando pelas ruas.

 

N.M: E por falar em uma era pós-digital, na qual estamos tão conectados que sequer percebemos a diferença entre online e offline, o que é real ou digital, você acredita que o mercado paulista está preparado para a chegada do 5G, da web 3.0 e do metaverso? O que é necessário para acompanhar o ritmo da inovação?

E.G: Nunca estamos preparados para a inovação. Mas devemos estar abertos para a inovação. E muitas vezes somos a própria inovação. Lembrando que a inovação por si só não é inovação. Inovação é aquilo que as pessoas absorvem e utilizam. O iFood, por exemplo, precisou da TV aberta com muito investimento para se tornar uma inovação sobre o modo como as pessoas podem pedir comida. O 5G por si só não é nada. O que vai tornar o 5G um sucesso é a forma como vamos utilizar essa “inovação”.

 

N.M: Muito se fala da necessidade de uma visão empresarial para gerir o negócio em comunicação. Quais os novos hábitos empresariais que podem fazer a diferença em 2022 nas agências?

E.G: O livro “O Poder do Hábito” de Charles Duhigg, repórter do jornal The New York Times e ganhador do Prêmio Pulitzer, responde muito a essa pergunta. Vale a pena ler ou reler sempre. No livro, Duhigg, pontua como os hábitos pessoais ou profissionais podem impactar na obtenção do sucesso, e destaca que a maioria das escolhas de nosso dia a dia é tomada com base em hábitos já existentes, e não resultado de decisões tomadas a partir de considerações e reflexões, e que, portanto, é preciso entendê-las para que se possa ter o controle de nossas rotinas. Da mesma forma, é preciso que as agências reflitam sobre seus hábitos empresariais a partir de um olhar diferente, que não seja apenas fundamentado nos hábitos que já fundamentam nossas rotinas.

 

N.M: Por fim, qual sua mensagem para o mercado publicitário em 2022?

E.G: Persistência, gestão e inteligência racional e emocional para a ressaca da pandemia. Estamos saindo de uma crise sanitária para entrar numa crise econômica, financeira, política e social. E com certeza venceremos mais essa e sairemos mais fortalecidos.

 

Eduardo Godoy é publicitário e jornalista, formado pela PUCCAMP. é Mestre em comunicação pública pela George Washington University e especialista em Marketing pela Escola Trevisan. Com 36 anos de experiência na área, foi vice-presidente executivo da Dentsu Aegis Network no Brasil, VP da NBS – NoBullShit Agency e presidente da Quê Comunicação. É hoje presidente do SINAPRO-SP, VP do CENP, VP da FENAPRO.