Responsabilidade

Dia das Mães: trajetórias que conciliam a maternidade e atuação profissional no mercado da Comunicação

Publicado em

06/05/2022 13h17

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As jornalistas Poliana Ramalho e Marina Holanda compartilharam com o Nosso Meio os desafios diários de serem mães com carreiras em ascensão

Segundo a última pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada pelo IBGE em 2021, 54,6% das mulheres entre 25 a 49 anos que têm filhos com até 3 anos não estão no mercado de trabalho contra 89,2% dos homens com a mesma situação. Assim, deixar os filhos em uma escola integral ou aos cuidados de uma avó acaba sendo a escolha para as mães que não querem abandonar o trabalho. Mas esse momento delicado também é uma oportunidade para a reinvenção.

Um dos principais motivos que levam as mulheres a iniciarem seu próprio negócio é o desejo de conciliar melhor a vida profissional com a rotina junto aos filhos. Segundo a Rede Mulher Empreendedora (RME), 7 em cada 10 mulheres buscam o empreendedorismo por conta da maternidade. É o caso da jornalista Poliana Ramalho, que deu início ao próprio negócio de assessoria de comunicação para conquistar satisfação profissional e manter uma rotina flexível com a família.

Aos 35 anos, a gestação de gêmeos mudou completamente a vida de Poliana. A profissional já tinha uma filha de 5 anos e mantinha três empregos. Conciliar as responsabilidades com os recém-nascidos tornou-se insustentável, ocasionando, inclusive, síndrome do pânico, início de depressão e outras patologias psicológicas.

“Retornei ao trabalho com um mês após o nascimento dos meus gêmeos. Eu tinha uma sociedade em uma empresa, então me cobrava para estar à frente do negócio, ao lado do meu sócio. Tudo estava dando certo na minha vida profissional e estava tudo certo na minha vida pessoal, mas elas não se encontravam. Quando meus filhos completaram um ano, decidi abrir mão da minha empresa e do meu emprego na TV Ceará para focar só na minha missão à frente da Coordenação da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará. Obviamente o cenário melhorou, mas seguia sendo difícil ser uma mãe de três filhos e que trabalha fora”, compartilha Poliana.

Mesmo com a redução da jornada, a jornalista sabia que ainda não era o modelo ideal para a sua realidade. O trabalho presencial, a responsabilidade de liderar equipe, o cumprimento de horários, a necessidade de se reportar para superiores, tudo limitava a sua convivência com os filhos.

“Passei três anos para decidir que eu queria empreender novamente. Ao colocar minha empresa, eu seria dona do meu tempo, teria mais autonomia, ficaria mais próxima dos meus filhos num trabalho home office. Aliás, eu sou precursora do trabalho remoto no segmento da comunicação no Ceará. Faz uns 9 anos que já atuo nesse modelo e isso possibilitou eu encontrar a paz e o equilíbrio entre minha vida profissional e pessoal. Assim, nasceu a Girassol Assessoria“, conta a jornalista.

Empreender em agência de assessoria de comunicação com trabalho remoto foi a virada de chave para Poliana Ramalho, que ressalta: “Eu não estou interessada somente no que o mercado exige, mas no que eu acredito que é melhor para minha vida. Eu quero escolher qual o meu caminho. Diante disso, não tenho ambição de ser uma empresa grande. Meu foco é ter bons e poucos clientes e seguir feliz com a vida profissional e pessoal”, finaliza.

Marina Holanda conquistou uma vaga no mercado de trabalho logo após a gravidez, o que nem sempre é tão fácil. A jornalista atua na assessoria de comunicação do Gabinete da vice-prefeitura de Fortaleza e conta que a reinserção profissional foi um desafio, especialmente no período de puerpério, no qual a mulher passa por um verdadeiro bombardeio de emoções e alterações hormonais. “Havia um desejo pessoal de não ficar para trás no mercado, mas também queria viver o momento da maternidade”, relata.

A principal dificuldade de Marina foi aceitar o formato tradicional das jornadas de trabalho ofertadas na área de Comunicação. Com anos atuando de forma autônoma e participando de editais públicos, agora a profissional agora tinha a necessidade de um emprego fixo para trazer mais segurança financeira à nova família.

“Sempre fiz meus próprios horários ao optar por trabalhos mais flexíveis, porém agora precisava de mais estabilidade. Nesse sentido, a conquista da minha vaga foi um pouco de sorte e resultado de uma boa rede de contatos, mas a minha impressão é que a maioria das mulheres enfrentam problemas para conseguir uma oportunidade. A solução que eu enxergava, se não tivesse sucesso no processo seletivo do qual participei, era o empreendedorismo. O plano B era apostar no meu potencial artístico e usar minha habilidade de comunicadora para promover uma nova carreira”, ressalta.

Na casa de Marina agora é ela quem trabalha fora e o companheiro fica em casa para acompanhar o pequeno Dante, de quase um ano. Marina faz uma análise contextual do seu lugar de mãe e profissional:

“Quando uma mulher se torna mãe e ela é branca, ela é realocada na escala do privilégio para um outro lugar. Se ela é uma pessoa racializada, é bem pior. Eu senti o baque, apesar da oportunidade de conquistar um emprego em seguida, os desafios de não me manter nesse emprego e não me tornar uma peça descartável em detrimento de outra pessoa que não tenha filhos ou pode dispender mais horas de trabalho do que eu ou até ter melhores resultados do que eu por não precisar ter uma jornada dupla ao chegar em casa… Todas essas situações perpassam o nosso dia a dia”, complementa Marina.

Como saída, Marina enxerga que a relação mercado de trabalho x maternidade só será equilibrada quando houver mais mulheres ocupando cargos de liderança nos ambientes corporativos para que oportunidades, atribuições e responsabilidades sejam redistribuídas no contexto de quem é mãe.

Até lá, as mães comunicadoras seguem contando com uma rede de apoio ativa, uma liderança sensível e a colaboração do parceiro para contrabalançar os pesos dessa antiga questão do universo feminino, além do comprometimento redobrado com suas atividades profissionais, enquanto aguardam uma melhoria na posição das mulheres no mercado.