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Consumo diário de bem-estar: o tempo não tem preço

Publicado em

01/12/2021 14h28

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Seja em tempo real ou virtual, o costume da prosa é um momento tão especial que requer certo cuidado daqueles que falam muito como eu.

Quando recebi o convite da minha amiga e também professora e pesquisadora Clotilde Perez para escrever um texto sobre consumo, publicidade, mídia e semiótica, eu fiquei pensando no que adquirimos  no cotidiano, particularmente agora quando permanecemos  mais em casa do que na rua, parafraseando o antropólogo Roberto Augusto DaMatta (1985).

Sai à caça de uma resposta e percebi, durante uma sessão de fisioterapia e usando  máscara, que uma das nossas necessidades diárias é o velho e gostoso bate-papo.
Eu estava ali fazendo os exercícios para cuidar das constantes  dores na minha lombar, legado pandêmico de ficar muito tempo sentado, quando reparei que queria conversar com alguém mesmo diante daquele ambiente tranquilo e com o diálogo restrito aos pequenos encontros com a fisioterapeuta.

De repente, ouve uma troca de salas e, quando cruzei um outro paciente no corredor, não tive dúvidas, puxei um dedo de prosa. Para começar, perguntei se ele era atleta e, depois, mudamos o rumo da conversa revelando memórias de nossas viagens, trabalhos e curiosidades. Levamos até um pito no final com aqueles dizeres: “Vamos terminar a sessão!?”. Em pouco tempo, aprendi muito com aquele senhor de 82 anos, extremamente culto e simpático.

Consumo diário de bem-estar seria a palavra certa para definir nossa necessidade de abrir a tela do computador, falar no telefone e trocar ideias. Gosto de colocar para fora nossas angústias, alegrias e desejos. Recuperar bons hábitos requer energia e também um pouco de coração aberto para conhecer pessoas e lugares.
Respeito é a palavra do momento e nada melhor do que (re) descobrir histórias para, enfim, deixar o tempo passar.

 

Para terminar, eu deixo uma poesia em tela e verso:

A vida que temos e a que sonhamos

Nada melhor do que estar presente

Trajetória sem preço

Abraços em palavras

O café está na mesa

E a gente coloca o papo em dia.

 

 DaMatta, Roberto Augusto. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense,  1985.

 

 

Luciano Victor Barros Maluly é professor livre-docente de jornalismo

na Escola de Comunicações e Artes da ECA-USP

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.