Artigos

Arrumar a casa, pra depois poder ganhar o mundo

Publicado em

11/11/2021 13h00

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Linkedin

Há um elemento problemático bem frequente nos bastidores do marketing digital que, a bem da verdade, sequer deveria estar lá. Um fantasminha nada camarada que surge sempre na hora do embarque de um novo cliente em uma agência ou na carteira de um profissional autônomo da área. Se não for bem administrado, ele facilmente se torna um verdadeiro nó de impedimentos que vai – como dizemos nós, cearenses – “embarreirar” todo o trabalho com o cliente logo de início. Sem mais delongas, esse problema é referente ao acesso às contas e serviços online do
anunciante.

 

Por diversas vezes, constatamos que um trabalho de gestão do marketing digital de um pequeno ou grande anunciante/empresa se inicia de qualquer jeito. Há cenários neste problema que se repetem, em casos que eu já vi e vejo até hoje, com mais frequência que gurus do Instagram vendendo fórmulas mágicas do sucesso.

 

Por exemplo, o caso do cliente que aprendeu a “mexer” nos anúncios por iniciativa própria, cadastrou uma conta de anúncios com um e-mail que ele nem usa mais e acabou perdendo o acesso e até o crédito que ele tinha pra anunciar. Ou então o nada raro caso da “pessoa do marketing que trabalhava aqui” que criou uma conta de anúncios no Google Ads em um login pessoal, que depois saiu da empresa e no fim das contas o cliente perdeu o acesso às suas plataformas de anúncios, bem como seu histórico de dados para todo o sempre.

Tem até mesmo aquele sócio curioso que criou uma fanpage com um perfil pessoal antigo do Facebook, não determinou acesso administrativo a ninguém mais, esqueceu a senha e agora aquela fanpage sucesso com mais de 30 mil seguidores tá sem dono… Enfim, são cenários que causam um terror completo para nós profissionais, tão horrendo quanto o Facebook Ads sair do ar numa sexta-feira no fim da tarde enquanto você ainda tem 19 anúncios pra subir.

Pra você que ficou meio tont@ com as situações acima, a gente pode resumir a importância desse problema em uma comparação bem básica. Imagine que os acessos do cliente às contas de anúncio do seu negócio são como as próprias chaves da porta da frente da sua empresa. Ou que poderiam mesmo até ser a senha do cofre. Agora me diga: você as entregaria pra qualquer pessoa? A perda destes acessos aparentemente banais acabam sendo caminho para o próprio
patrimônio digital do negócio dele. Isso porque quem quer anunciar em plataformas como o Google ou Facebook precisa fornecer dados sensíveis como informações de pagamento, endereço, número de cartão de crédito, CNPJ, CPF e tantos outros. Novamente: você entrega esses dados a qualquer pessoa?

Na minha empresa, trabalho para educar o cliente sobre a importância de se ter paciência neste processo e colaborar desde o início. Assim, criamos e implementamos constantemente um processo de “setup” em 6 passos para resolver essa que já é considerada uma demanda inicial antes mesmo de qualquer anúncio ser veiculado. O tal setup pode durar de 1 semana a 30 dias, mas é de extrema importância organizacional, sendo também um passo importante para mostrar o quanto nossa filosofia de trabalho se baseia na transparência e na colaboração – se esse tempo vai ser maior ou menor depende também da participação de quem me contratou, e é por isso que sempre faço questão de puxar o cliente pra dentro dessa tarefa quando possível. Ele envolve não só a recuperação dos acessos das contas principais, mas uma verdadeira varredura e estruturação de todos os serviços que serão essenciais à sua operação. Há inúmeras ferramentas nativas do Google que precisam ser integradas a um e-commerce, por exemplo – você com certeza conhece o Google Ads, mas já ouviu falar do Google Merchant Center ou do Google Search Console? São
serviços fundamentais para quem tem uma loja virtual e deseja anunciar seus produtos.

 

Além do mais, todo esse processo serve para evitar ao máximo que o cliente tenha uma conta ou gerenciador de anúncios bloqueados no futuro, algo que por vezes acontece de forma irrecuperável. Um dos motivos é que as plataformas possuem diversas políticas e boas práticas organizacionais justamente para evitar fraudes e anunciantes irregulares – e acredite: tá cheio deles por aí. No fim do dia, o Google ou o Facebook sempre vão pensar no bem-estar do usuário final que vai receber e clicar no anúncio: ele é a ponta do processo, o principal fim de sua existência, e precisa ter a melhor experiência possível. E é assim que qualquer anunciante também deve pensar, pois o objetivo final é o bem-estar de seus clientes. Ou você também não quer que seu cliente seja bem atendido ao chegar em sua loja física?

 

Quando me deparo com um problema de acessos, começo um verdadeiro trabalho detetivesco de amarrar todas as pontas deixadas ou por profissionais anteriores ou pelo próprio cliente em sua empreitada por anunciar “nessas coisa de Instagram”. Não é fácil, não é divertido, mas alguém precisa fazê-lo. E aqui já vai uma dica que pode salvar horas de (re)trabalho no futuro: centralize todos os serviços Google em uma conta Gmail principal do cliente, e depois saia concedendo os acessos a quem precisar trabalhar nela. Assim, o cliente sempre será o dono daquela conta de anúncios, e caso rompam contrato, basta remover quem não vai mais operá-la. Outra dica? Todos os usuários ligados às contas de anúncio de Facebook ou Google em questão precisam ter pelo menos a chamada Autenticação de 2 Fatores ativada, para evitar acessos indevidos.

 

No fim das contas, não dá pra ter conversão se a gente não tiver toda essa conversa antes. Por mais que seu cliente tenha pressa, não justifica queimar etapas essenciais de organização para o andamento do trabalho logo no início do processo, só pra mostrar serviço. O preço a pagar, lá na frente, pode ser bem caro e amargo, pois plataforma de anúncios não tem coração: tem regras. Ter uma conta de anúncios bloqueada por uma plataforma é algo que eu não desejo nem pra nenhum ex-chefe meu.

 

Portanto, antes de falar em “tráfego pago”, “lançamento”, “escalar” e outros termos que de uns tempos pra cá soam como mel na boca (e que viciam como açúcar), bora pensar antes um pouquinho mais em educação doméstica: é arrumar a casa, pra depois começar a pensar em ganhar o mundo!

Sérgio Costa é Publicitário e Head de Criação e Inteligência Digital da Vinccolo Marketing. Redator por encanto, escolha e teimosia. Atualmente se dedica primariamente à Performance e Estratégia no Marketing Digital.

 

Instagram:

@vinccolomarketing

@sergiodmcosta