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A publicidade TOP OF MIND 2021 e os indígenas

Publicado em

08/12/2021 08h00

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O Top meio ambiente da Folha Top of Mind (2021) ficou com Omo, Natura e Ypê. Embora o título da matéria seja Verde é a cor mais quente (FOLHA TOP OF MIND,2021, p 63) e a imagem aponte para um indígena tendo ao fundo o mapa mundi, os três vencedores – de estarem na cabeça dos brasileiros – não tratam em suas publicidades da preservação de terras indígenas. Essas marcas trabalharam temas que envolvem a sustentabilidade, a Amazônia como no caso da Natura ou mesmo a marca Ypê que traz em seu nome a alusão à natureza. Em suma, são temas que remetem à limpeza e à conservação.

Diante da imagem do indígena, no entanto, fica a pergunta: a publicidade, em geral, e nos casos das três vencedoras, trabalha com os indígenas? No sentido de termos indígenas como modelos, como fotógrafos, como diretores de arte de campanhas publicitárias?

O que se tem visto são campanhas que afrontam o indígena. O que se vê, ainda, é a imagem tutelada do indígena em que pese a peça da ativista Katu Mirim ‘campanha #ìndioNãoÉFantasia’ que justamente insiste na imagem que se vê estereotipada como negativa e relega também campanhas apenas ao Dia do Índio. Para esse dia, aliás, a ativista criou uma campanha pedindo a professores que em lugar de colocarem cocares nas cabeças de alunos que levassem às escolas representantes legítimos da cultura indígena.

Um bom exemplo aconteceu na FLIP – Feira Literária de Paraty 2021 que fez homenagem a indígenas mortos pela COVID19 e abriu seus trabalhos tratando das florestas e de seus habitantes constantemente ameaçados pela tomada de suas terras. Essa luta constante também sempre foi pauta das fotos de Sebastião Salgado sobre a Amazônia, por exemplo. Outro bom exemplo é a campanha da Wieden+Kennedy São Paulo que veiculou campanha a favor da vacina como cura contra exemplos de fake news justamente com o mote: mentira é doença, vacina é cura. O vídeo da campanha mostra indígenas em risco por conta da epidemia.

Contrária à publicidade inclusiva que insere negros no mercado publicitário, essa inclusão no caso dos indígenas tem sido bem pequena. Basta retomar as top em relação ao meio ambiente e a ausência de modelos, produtores e outros profissionais da área que representem essa parcela da população brasileira. A julgar pela SPFW edição 52 (novembro 2021) a diversidade e a beleza indígena ganharam destaque. Auguri!

 

 

Roseli Gimenes

Coordenadora do curso de Letras da UNIP

Coordenadora do projeto Cultura em Foco do Instituto Legus

Professora no curso Semiótica Psicanalítica PucSP

Pós doc em Comunicação e Semiótica PucSP

Doutora em Tecnologias da Inteligência e Design Digital PucSP
Mestre em Comunicação e Semiótica PucSP

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.